A indignação seletiva

Quer maior prova de que as pessoas não estão verdadeiramente revoltadas com a corrupção? Simples, basta ver que quando sai a notícia de que um político do PSDB foi citado no escândalo X como tendo recebido propina, as pessoas "revoltadas" prontamente começam a dar uma série de desculpas, a dizer que ele só poderá ser culpado depois que as provas tiverem sido comprovadas como autênticas, que as provas podem ter sido forjadas e, portanto, ele pode não ser culpado etc.

Em compensação, quando é algum político do PT, não importa se as provas ainda não foram autenticadas, as pessoas já saem falando "CORRUPTO!!111!", "LADRÃO!!111!". Por que, afinal, essa diferença de tratamento?

A resposta é clara: indignação seletiva. Em uma única palavra: hipocrisia. 

Essa indignação seletiva, o ato de bradar apenas "FORA PT" e se esquecer de TODOS os outros políticos, de inúmeros outros partidos, envolvidos em escândalo, só demonstra que quem brada dessa forma, no fundo, no fundo, não está nem aí pra corrupção. O que incomoda esse tipo de pessoa não é a corrupção... É o partido.

Se fosse uma notícia de que político qualquer do PSDB recebeu propina (e há notícia assim já circulando, inclusive com a delação do Youssef, por exemplo), essas pessoas que adoram bradar "FORA PT" sequer dariam bola, fariam vista grossa, como já fazem, ou apenas começariam a dar inúmeras desculpas tentando não aceitar que o político está envolvido em corrupção. Nesse momento, para elas, a delação premiada passa a ser duvidosa... Mas engraçado que antes, quando citava o PT, ela não era duvidosa, né?

Sabem qual é a diferença entre quem apoia o governo atual e quem grita "FORA PT"? 

A diferença é que quem apoia o governo, sendo petista ou não, NÃO nega que parte do PT esteja envolvido em corrupção. Em compensação, os caolhos e falsos moralistas que gritam o coro dos revoltados contra o governo não assumem que seus amados políticos ou que qualquer outro partido TAMBÉM esteja envolvido no mesmo escândalo de corrupção.

Assim, essas pessoas, ao invés de se juntarem ao coro real e legítimo contra a CORRUPÇÃO e não somente contra um partido, acabam não ajudando em nada para o fim da sujeira na política. Na verdade elas acabam dando o aval para que os demais partidos, também corruptos, continuem roubando, pois estes sabem que a indignação desse público é seletiva, que a revolta é só contra o PT.

Eu já expliquei aqui porque as pessoas gritam com raiva só contra o PT. Desde sua criação, o PT é visto como um partido mais atrelado ao povo, ao trabalhador... Enfim, ao pobre. Também não é de hoje que as classes média, a elite e mesmo alguns elementos que vem do povão sentem asco à pobre (e a si mesmo), ao que é e vem do povo. 

As pessoas são classistas, são segregadoras... Bonito e chique é ser rico, sofisticado. 

Prova disso é o ódio ao funk (atual), tipicamente nascido nos morros da favela, o ódio e a ridicularização à escrita errada é outro exemplo do nojo a comportamentos e gostos que são ligados ao "ser pobre". Se classe média e elite não tivessem asco a tudo o que lembra "povão", não olhariam torto para o pobre frequentando aeroporto, para o pobre comprando tênis de marca e roupa de marca no shopping, para o pobre frequentando universidade pública etc.

Por todo esse nojo que existe por parte de alguns a tudo o que remete ao povão é que nasce o ódio ao PT. O PT ainda é marcado pela imagem do Lula suado, chão de fábrica, falando errado e se dirigindo a uma imensa classe de trabalhadores. Ou seja, a imagem do PT ainda é ligada ao "povão"... Por mais que hoje o PT seja muito "mais mercado, do que povo". Fora essa imagem histórica do PT atrelada ao Lula, esse também foi o partido que nos governos Lula instaurou uma série de medidas voltadas a quem? Ao pobre.

Era lógico esperar mesmo que um ódio fosse criado e cultivado cada vez mais, não contra a corrupção, mas contra o partido que remete à ideia de povo. Tá aí parte da explicação do ódio e da indignação seletiva que hoje acomete parte da sociedade. Porém, ficaria menos pior se as pessoas assumissem de uma vez por toda que elas não estão nem aí pra corrupção e que o lance mesmo é despejar toda a sua frustração contra um partido que lhes remete a algo que elas possuem nojo.

Pelo menos o jogo seria limpo e as cartas estariam na mesa.