domingo, 22 de março de 2015

A corrupção esquecida

A distribuição de partidos que receberam dinheiro do caixa dois de Furnas
Atualmente, o assunto que toma as redes sociais é a corrupção. Uma boa parte das pessoas que estão revoltadas com os escândalos de corrupção, entretanto, acredita que "nunca antes houve tanta corrupção como agora". Porém, elas se enganam.

Primeiro porque a corrupção sempre existiu, a diferença é que antes os casos eram abafados e o público logo se esquecia dos escândalos que não tomavam nem 5 minutos no horário nobre do Jornal Nacional. Hoje, entretanto, a corrupção é noticiada e é investigada. 

Um dos casos que apareceu e desapareceu dos noticiários como se fosse relâmpago foi o caso do caixa dois de Furnas no início dos anos 2000. Ora vejam só, antes do governo do PT, quem supostamente criou a corrupção no Brasil ou ampliou ela, segundo os caolhos.

Mas voltando ao caso do caixa dois de Furnas, nas eleições de 2002, surgiu uma lista de 156 políticos que haviam se beneficiado com valores altos advindos de um esquema de corrupção. Entre os políticos citados, mais de 60% pertencem ao PSDB, partido que hoje incentiva a população a ir às ruas protestar contra o governo Dilma. 

Hipocrisia? Certamente. Entre os citados na lista, estavam José Serra, com uma fatia generosa de 7 milhões, Geraldo Alckmin (governador de São Paulo) com uma fatia de incríveis 9 milhões, Aécio Neves e mais diversos políticos cuja maioria era do PSDB, PP, PMDB, PFL etc. O PT, o suposto partido que criou a corrupção no Brasil, sequer era citado.

Serra e Alckmin aparecem na lista com valores na ordem dos milhões
Após a lista ter sido autenticada pela Polícia Federal em 2006, segundo a Folha de São Paulo, o escândalo parece ter caído no esquecimento do público que hoje acredita que o problema do país é o PT; que a corrupção foi criada ou aumentada pelo PT. 

Mas nem tudo que cai no esquecimento permanece. Em mais uma reviravolta, enquanto o PSDB luta para fechar os inquéritos abertos contra seus políticos, o doleiro Youssef chega com mais uma velha novidade. Novamente, o nome de Aécio Neves, do PSDB e o PP são citados como tendo recebido propina no caso de Furnas, conforme pode ser visto nessa notícia e nesse vídeo.

Mas obviamente, todos esses assuntos não vão ganhar 30 minutos no horário nobre do Jornal Nacional, nem serão capas da Veja ou motivo de protestos por pessoas revoltadíssimas que se dizem muito preocupadas com a corrupção no Brasil, mas que só sabem gritar "Fora PT", se esquecendo de todos os outros políticos envolvidos no escândalo de corrupção que agora toma a mídia e nos antigos casos, como o caixa dois de Furnas.

O que temos atualmente, na verdade, é um cenário de histeria coletiva criada e reforçada por uma ala da mídia que sempre teve relações bem próximas com esquemas de corrupção (a Veja e sua relação com Carlinhos Cachoeira) e com partidos envolvidos até o pescoço em escândalos que são logo camuflados do olhar do público. Como esperar que as pessoas, pobre ludibriadas, possam ir às ruas protestar contra o PSDB, que desde os anos 90 segue afundado em esquemas ilícitos, se elas sequer chegam a saber desses casos, pois a mídia não dá a devida atenção?

Fora isso, durante os anos em que o PT esteve no governo federal, um ódio foi sendo criado paulatinamente contra ele e contra suas medidas outrora populares. Não é de hoje que a elite tem nojo e asco a pobre. Prova disso é quando a gente ouve e ouviu frases do tipo "os aeroportos agora parecem rodoviárias", "meu filhinho agora tem que estudar na universidade pública ao lado do filho da empregada", "eu tenho dó de pobre, mas contanto que eles não invadam meu shopping" etc. A imagem abaixo é uma ótima representação e síntese desse nojo que a elite tem.


Pela primeira vez, determinados espaços que antes eram relegados apenas a uma classe social passaram a ser democratizados, como os aeroportos e as universidades, fazendo com que a elite e as classes médias criassem um ódio contra o governo que propiciou isso. 

Portanto, mais do que miopia política, o povo brasileiro que foi às ruas no dia 15 de março também é diariamente ludibriado por uma mídia que incentiva uma histeria coletiva, mascarando outros escândalos de corrupção que não interessam que sejam alvo dessa histeria e, por fim, existe toda a questão da movimentação social causada pelas políticas populares do governo PT que fizeram a elite criar um ódio contra o partido e seu governo.

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