Navegando na Deep Web - Parte 1

Não sei em que momento as pessoas passaram a se interessar mais sobre esse lado do mundo virtual. Eu mesma nutri maior curiosidade recentemente. O fato é que existe toda uma lenda por trás do “lado obscuro” da internet, apelidado de Deep Web, a parte não indexada da internet; a surface (essa internet que usamos no dia-a-dia, pesquisada e acessada, por exemplo, pelo Google) é indexada.

Quando passei a buscar mais a respeito e me instruir como poderia acessar a Deep Web, me deparei com uma penca de blogs e supostos relatos de gente que acessou-a, além da Darknet. Para mim, que nunca havia estado nesse mundo, me pareceu ser um “lugar” perigoso, cheio de coisas ruins, imagens perturbadoras, hackers prontos a atacarem meu computador, vírus a cada clique e por aí vai. Mas os relatos não me impediram de entrar e ver com meus próprios olhos. 

Obviamente muni meu computador com todos os recursos a fim de protegê-lo, como a atualização do anti-vírus, a utilização de um firewall, criação de uma máquina virtual, baixei o Tor para camuflar o IP (mas é, mesmo assim, facilmente detectável) e por aí vai.

Antes de relatar aqui o que vi logo na primeira vez que entrei, provavelmente você, leitor, já leu a respeito nesses mesmos blogs, certo? Arrisco, mais uma vez, a dizer que se deparou com os seguintes relatos:

- “A Deep Web é o inferno na Terra!”;

- “Não aconselho ninguém a entrar lá, é muito perigoso!”;

- “Se você entrar, no dia seguinte o FBI vai bater na sua porta e te levar preso.”;

- “Lá só tem foto e vídeo de gente morta.”;

- “Lá é um lugar para pessoas perturbadas. Se você não quiser ficar traumatizado pelo resto da vida, não entre de jeito nenhum!”;

- “Entrei na Deep Web e me arrependo, nunca mais fui o mesmo. Até hoje tenho problemas para dormir.”;

- “Você só vai encontrar assassino em série, pedófilos, psicopatas etc.”;

- “Se você entrar lá, seu computador vai explodir.”;

- “Se você entrar lá, um monte de crackers vai invadir seu computador e destruir todas as suas informações”.

E por aí vai. A lista de frases de quem supostamente entrou na Deep Web é enorme, mas acredito que todos que já leram sobre o assunto se depararam com essas em especial. Pois é, eu também, mas como sou curiosa por natureza e não acredito quase em nada do que eu leio na internet, visto que no meio de muito lixo é que se encontra a real informação, genuína e verídica, resolvi ver tudo isso por mim mesma. Pois bem, vamos ao que eu constatei.

A primeira coisa que eu descobri: Deep Web é erroneamente confundida com tudo o que termina com “onion“, logo, é relacionada unicamente com o Tor. Pare aqui. Não, não é só o Tor (onion), ela é mais ampla e abarca outros browsers também. Segunda coisa constatada: esse lance de camadas da Deep Web também é balela. Por que? Bom, essa questão dela ser feita em camadas foi uma confusão em cima de, possivelmente, uma tentativa de explicar como a internet não indexada funciona.

Exatamente por não ser indexada, a acessibilidade de lá não é fácil e, dessa forma, certos assuntos não são facilmente encontrados, portanto, sendo atribuídas “camadas”. Fora isso, a questão das camadas também pode ter a ver com o fato da Deep Web não ser só onion (como eu disse lá na minha primeira constatação), mas também ser I2P, Freenet, GNUnet etc. Muitas pessoas erroneamente atrelam o “lado obscuro” da web à onion. Nesse sentido, por haver essa variedade de internet encrypitada e anônima, surge o conceito de camadas; algumas mais acima (onion), outras de menor conhecimento e acessibilidade mais abaixo.

Prosseguindo com minhas constatações, logo que entrei na onion, me decepcionei. Ao contrário de tudo o que li, não pularam da tela imagens bizarras de pessoas mutiladas, meu computador não explodiu, crackers não invadiram minha máquina, nem me deparei com assassinos, pedófilos e gente perturbada. Não. Vi o oposto de tudo isso. Parecia que eu tinha voltado uns 20 anos na tecnologia e acessado uma internet dos anos 90. Tudo era muito confuso, de acessibilidade bem complicada, pelo menos para mim, à época, que não sabia mexer em nada dali. Me decepcionei, fiquei alguns minutos e resolvi sair.

Alguns dias depois, pesquisando um pouco mais a fundo sobre o assunto, resolvi entrar na Deep Web novamente, porém, agora, com outros olhos, não mais com aqueles de curiosidade e fascínio por um mundo proibido, pois já sabia que havia caído, inicialmente, numa lenda de internet. Em minha segunda visita, resolvi perder um pouco mais de tempo lá e pesquisar melhor, aprender a mexer e buscar conteúdos. Após um tempo, encontrei sim fóruns de pedofilia e do mercado negro, mas foram só alguns e não me interessei em entrar em nenhum deles. Mas o que me chamou atenção é que lá na Deep Web tem muita informação disponível; encontrei uma biblioteca com mais de 2000 títulos em Português! Fora as outras internacionais que traziam livros em inglês, espanhol e tantas outras línguas.

Acessei mais algumas vezes e o que posso concluir é que existe muita lenda a respeito. Pessoas que nunca entraram lá comentam como se já tivessem, baseando toda sua “experiência” na leitura de blogs sensacionalistas, que possivelmente também não acessaram nunca a web encrypitada. É triste ver que as pessoas acatam passivamente tudo o que lhes é dito, ficando sujeitas a serem enganadas o tempo todo com mitos e lendas. Nesse caso, fico pensando em quantas perderam e perdem a oportunidade de conhecer um lado diferente do que estão acostumadas por causa de mentiras e sensacionalismos de internet.

Algumas considerações finais:

Apesar da Deep Web não ser esse monstro todo que pintam, não se enganem, pois de fato lá também, repare bem na palavra “também”, é utilizado por pessoas a margem da lei. Ainda que não seja tão fácil se deparar com um site de psicopatas, assassinos em série, há de sempre tomar cuidado no que você clica não só para se preservar, mas para que não perca seu computador com vírus indesejados. Fora isso, aconselho que as pessoas acessem-na pelo menos uma vez na vida (sempre com segurança).